10 motivos pelos quais você nunca passará no CACD

Tristeza CACD

Hoje vou discutir um pouco sobre as características mais comuns que observo naqueles candidatos que jamais passarão no CACD.

Antes que você comece a me odiar, saiba que os itens abordados neste post não são uma sentença. São apenas observações reiteradas de características comuns a pessoas que tentam passar no CACD por anos, mas jamais logram êxito.

Caso você perceba que tem uma ou mais das seguintes características, não se desespere. Utilize este texto como uma ferramenta para reajustar seu comportamento e entrar no caminho da aprovação.

 

  1. Você não gosta de escrever;

  2. Você não sabe inglês;

  3. Você considera o aprendizado de idiomas um esforço;

  4. Você faz leituras aleatórias;

  5. Você participa nas mídias sociais;

  6. Você trabalha em tempo integral e sustenta uma família;

  7. Você pensa no curto ou médio prazo;

  8. Você não tem dinheiro;

  9. Você foi reprovado na Primeira Fase do CACD mais de 4 vezes;

  10. Você quer ser diplomata pelo status.

 

 

Você não gosta de escrever

Todos os aprovados que conheci eram ávidos leitores, mas, mais do que isso, eram exímios escritores também. A habilidade de escrever está intimamente relacionada ao seu sucesso no Concurso de Admissão à Carreira Diplomática.

Embora muitos candidatos consigam desenvolver a habilidade necessária para responder a questões objetivas com maestria, poucos são capazes de transportar sua habilidade para as fases discursivas.

Você pode estar se perguntando:

Mas as fases discursivas não cobram precisamente o mesmo conhecimento das objetivas?

Sim, é verdade. Mas a maneira como o conteúdo é cobrado é bastante diferente. Além disso, o rol de características necessárias para que o candidato consiga elaborar dissertações dignas da banca é consideravelmente mais abrangente.

Deixe-me explicar mais claramente.

É vastamente mais simples apontar um erro em determinada afirmativa proposta pela banca (caso da fase objetiva) que discorrer sobre o mesmo assunto sem apresentar imprecisões.

A mera leitura dos livros da bibliografia obrigatória de História do Brasil é o suficiente para que candidatos consigam compreender o encadeamento lógico dos eventos históricos. E essa mesma lógica é suficiente para responder a uma série de itens da prova. Talvez não todos, mas a maioria deles.

Na avaliação discursiva a situação é diversa. Ao candidato não basta apenas reconhecer o encadeamento lógico, ele precisa descrevê-lo e, junto a isso, apresentar nomes de personagens, títulos de tratados, datas e uma miríade de outros dados que só podem ser verdadeiramente armazenados no cérebro por meio de milhares de horas de prática.

Para tornar a situação ainda mais crítica, não basta fazer tudo isso, é preciso fazê-lo rapidamente.

A quantidade de tempo oferecida pela banca é absolutamente insuficiente em comparação ao nível de detalhamento exigido. Portanto, quando você ler uma redação de algum dos guias de estudo e pensar: “Essa redação é muito boa, mas acho que consigo fazer melhor”, lembre-se de que o candidato que redigiu aquele texto não teve tempo para fazer rascunho e já havia respondido a outras questões discursivas antes daquela no mesmo dia.

 

 

Você não sabe inglês

Todas as semanas recebo um e-mail com a pergunta:

“Não sei nada de inglês, o que devo fazer?!”

Não me agrada dizer às pessoas que elas deveriam abandonar seu sonho e buscar outra atividade, mas a dura realidade é que, se você não estudou inglês por pelo menos alguns anos antes de tentar o CACD, suas chances de aprovação são virtualmente nulas.

É possível aprender inglês especificamente para o CACD e ser aprovado?

Sim, mas é incrivelmente improvável.

A menos que o candidato esteja disposto a investir múltiplos anos em desenvolvimento linguístico, tentar o CACD sem bases sólidas em língua inglesa é um esforço fútil.

Para ser perfeitamente honesto, mesmo que o candidato queira fazer esse investimento, o tempo necessário para chegar à aprovação simplesmente não vale a pena.

 

 

Você considera o aprendizado de idiomas um esforço

Aqui nem levo em consideração língua portuguesa e língua inglesa, idiomas fundamentais para aqueles que buscam trabalhar no Itamaraty. Você precisa dominar essas disciplinas, não há espaço para deslizes.

Em relação a francês e espanhol, muito embora sejam cobrados de maneira mais superficial, precisam ser praticados rotineiramente. Se você considera o aprendizado desses idiomas uma árdua tarefa, suas chances de continuar progredindo ao longo dos anos serão minúsculas.

Aprender idiomas é como fazer exercícios físicos, há aqueles que não conseguem passar um dia sequer sem realizar alguma atividade esportiva, e aqueles que preferem ficar no sofá comendo pizza.

Se você não estuda idiomas por prazer, dificilmente conseguirá competir com aqueles que assim o fazem.

 

 

Você faz leituras aleatórias

Já mencionei isso aqui no site algumas vezes. Muitos candidatos à carreira diplomática são vaidosos e se desdobram para demonstrar erudição.

A situação mais cômica que observei até hoje foi protagonizada por uma candidata que lia sobre a Unificação da Alemanha em um livro escrito em alemão por um autor, adivinhe, também alemão.

O objetivo daquela moça (aqui caberia bem a palavra rapariga) era mostrar para todos que ela falava alemão. O conhecimento para o CACD ficava em segundo plano. Tola.

À banca avaliadora não importa as opiniões de autores alemães. Não interessa se você é descendente de Otto von Bismarck. O único aspecto relevante é a sua capacidade de responder aos itens de acordo com aquilo que está escrito na bibliografia obrigatória para o CACD.

A banca seleciona aqueles que dizem aquilo que ela quer ouvir.

 

 

Você participa nas mídias sociais

Vou deixar algo bem claro. Se você tem “studygram”, você não vai passar no CACD.

Tudo bem, tudo bem…se você utiliza sua conta no Instagram apenas uma vez por semana por alguns minutos, isso não irá te prejudicar. Mas se você utiliza o aplicativo todos os dias para postar fotos dos seus livros, do seu computador ou das suas anotações, você está jogando seu tempo fora.

A cada minuto que você desperdiça postando fotos e lendo comentários, seus concorrentes aprendem algo novo. E acredite em mim:

“No dia da prova eles farão questão de mostrar a você a dura realidade do CACD e da vida.”

Pare de tentar mostrar para os outros que você está “estudando para o CACD” e comece a estudar de verdade.

Não se iluda. Likes e comentários não tornam o caminho até o Itamaraty mais curto, é exatamente o oposto! Você não é “quase diplomata”, é apenas um estudante como tantos outros milhares.

Aspirantes à carreira diplomática e moradores de rua são pessoas em situações bastante similares. Ambos são desempregados e dependem da boa vontade de outras pessoas para se alimentar.

Caso você ainda não consiga compreender o que acabei de escrever, veja os números:

Apenas 0,35% dos candidatos são aprovados no CACD. Isso mesmo. Você precisa ser melhor que 99,65% dos outros estudantes para alcançar a aprovação.

Será que os aprovados também postavam fotos no Instagram durante a época de preparação?

Acho que não.

 

 

Você trabalha em tempo integral e sustenta uma família

Você já não é um adolescente, portanto certamente já sabe disso, mas vou mencionar de novo só para deixar registrado:

A vida não é justa.

Pessoas que trabalham em tempo integral e, além disso, precisam sustentar uma família, estão em posição de quase absoluta desvantagem em relação às demais.

O discurso adotado pela sociedade é o seguinte:

Você é um lutador! Jamais desista! Perseverança é chave do sucesso!

Tudo bem, essa é uma maneira positiva de viver. Embora seja importante que você consiga manter a motivação em momentos difíceis do percurso, estipular objetivos impossíveis não é inteligente.

 

Ora, se eu te der uma colher e disser:

Entre no mar, mergulhe até o leito e cave até chegar ao pré-sal.

Você irá achar que sou um completo idiota.

 

Por que então é aceitável alimentar as esperanças vazias de algumas pessoas? Por que é aceitável dizer:

Não importa se você só tem 1 hora livre por dia! Você vai superar aquelas pessoas que estudam 8 horas diariamente, inclusive aos sábados e domingos.

 

Você consegue perceber que a proposição é absurda? A matemática não fecha.

Caso você trabalhe em tempo integral e seja responsável pelo sustento da sua família, mas já saiba inglês, francês, espanhol e tenha profundo conhecimento sobre os tópicos do edital, talvez haja chances de aprovação, mas se você vai começar a estudar agora, seja realista. Confie na matemática.

 

 

Você pensa no curto ou médio prazo

O CACD é um projeto de longo prazo. Se você precisa passar agora, busque outro concurso para garantir seu conforto financeiro e só então comece a estudar para a diplomacia.

Eu sei que todos nós somos confiantes. Por algum motivo acreditamos que com a gente será diferente. Nos convencemos de que, se os outros não passaram mais cedo, foi porque não se dedicaram tanto quanto iremos nos dedicar. Infelizmente o CACD não é assim.

Há hordas de candidatos que se esforçaram ao máximo, mas que jamais foram aprovados. Há muitos que foram à biblioteca aos sábados e domingos de manhã somente para serem trucidados pela banca no dia da prova.

Pense nisso, será que dentre os 99,65% que não foram aprovados não há pessoas extremamente esforçadas?

É claro que há!

Você precisa entender que o esforço cego não basta. É preciso ter a estratégia correta e ler os livros corretos. Mais uma vez deixo os links:

 

 

 

 

Você não tem dinheiro

Lembra que eu te disse que a vida não é justa?

A preparação para o CACD é extremamente cara. Os cursos preparatórios são implacáveis, alguns são verdadeiros agrupamentos de mercenários (veja como você pode se proteger de práticas abusivas de cursos preparatórios para o CACD).

Basta observar o preço das aulas de uma única disciplina: algo em torno de 2 mil reais. Isso sem contar aulas de exercícios ou de questões discursivas.

O Concurso de Admissão à Carreira Diplomática é um empreendimento absurdamente caro e o preço é, sim, um fator de exclusão de parte significativa das pessoas que gostariam de estudar para a prova.

Hoje em dia há alguns programas de bolsa, especialmente para aqueles que se enquadram no sistema de cotas, mas a realidade, para a maioria dos candidatos, é um enorme buraco na conta bancária e um oceano de incertezas em relação à aprovação.

 

 

Você foi reprovado na Primeira Fase do CACD mais de 4 vezes

Esse é o maior indicador de fracasso no CACD. Eu fiz questão de verificar os dados numericamente.

Não encontrei nenhum candidato que tenha sido aprovado no concurso por inteiro após 4 reprovações na Primeira Fase do certame.

Aqueles que um dia serão diplomatas demonstram resultados excepcionais nas provas objetivas.

Embora seja bastante comum que candidatos fiquem “presos” nas fases discursivas e enfrentem anos de reprovações, isso nunca acontece em relação à Primeira Fase.

 

Há duas explicações para isso:

  • Pessoas que reprovam múltiplas vezes nas objetivas tendem a seguir estratégias de estudo errôneas e mesmo que se esforcem na mesma medida que os aprovados, não conseguem obter os mesmos resultados.

 

  • As provas discursivas exigem conhecimento muito mais profundo e galvanizado. Alguém que esteja preparado para encarar essa etapa já dominou as habilidades necessárias à aprovação na prova objetiva há muito tempo.

 

 

Você quer ser diplomata pelo status

Cada um tem suas motivações, meu papel não é julgar ninguém. Apear disso, observo que a busca por status não é um propulsor forte o suficiente para vencer a miríade de obstáculos no percurso daqueles que querem ser diplomata.

Durante os anos de preparação, a maioria das pessoas encontrará alternativas que também envolvem algum grau de status. Isso tende a ser o suficiente para que o plano de passar no CACD seja abandonado.

Não estou afirmando que os aprovados não se importam com status. Eles se importam, e muito! Mas esse tende a ser apenas um dos motivos para justificar as longas jornadas de estudo.

Quando não há verdadeiro amor pelo país acompanhado da honesta vontade de fazer a diferença, a provação torna-se muito mais difícil.

O segmento anterior pode parecer idealista, mas é comum encontrar aprovados que pensam exatamente assim.

 

 

Conclusão

Como eu havia dito, caso você tenha reconhecido alguns de seus comportamentos nos parágrafos anteriores, não se desespere, não se deixe esmorecer. Apenas trabalhe para recalcular seu trajeto e comece a agir de maneira a possibilitar resultados factíveis.

Meu objetivo com este site não é escrever o que você gostaria de ler, mas mostrar a realidade desse processo seletivo tão concorrido.

O CACD é uma guerra intelectual e, para vencê-la, você precisa de um verdadeiro arsenal. Arme-se com conhecimento e siga em frente.

 

Depois desse banho de água fria, que tal verificar se você tem algumas das características daqueles que certamente passarão no CACD?

Leia: 10 Motivos pelos quais você passará no CACD algum dia.

Este post tem 2 comentários

  1. Juliana Silva

    Eu tenho uns dois desses motivos, mas nada que eu não possa corrigir. Mesmo assim eu gostei muito do texto. É importante a gente encarar a realidade já no começo. Agora, eu vou ler “10 motivos pelos quais você passará no cacd algum dia”, espero me identificar com alguns motivos lá também kkkkkkk Gostando muito dos textos.

    1. Bruno

      Juliana,

      sua atitude está correta! O objetivo do texto é justamente apontar aquilo que pode ser melhorado.

      Bons estudos =)

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