Vale a pena estudar para o CACD com fichamentos?

Digitando fichamentos para o CACD

Vale a pena estudar para o CACD com fichamentos?

Vou responder de maneira objetiva: Não! Não vale a pena estudar para o CACD por meio de fichamentos.

Eu tenho recebido essa pergunta com enorme frequência e também tenho visto diversas variações deste mesmo questionamento espalhadas pela internet.

Vou fazer o máximo para fundamentar minha opinião acerca desse assunto. Aliás, assim como eu, você deve adquirir o hábito de utilizar dados para reforçar seus argumentos sempre que escrever um texto dissertativo na Segunda e Terceira fases do CACD.

 

Por que não vale a pena estudar com fichamentos?

Imagine a seguinte situação: você está começando a estudar para o concurso do Itamaraty agora e, logo no início, decide comprar um dos livros basilares da preparação para a disciplina de História do Brasil. A obra se chama História do Brasil, do autor Boris Fausto, e ela está organizada em precisamente 556 páginas.

A velocidade na qual você conseguirá realizar o fichamento desse livro está diretamente relacionada ao seu conhecimento dos assuntos ali discutidos.

Agora imaginemos que você ainda não tenha domínio dos tópicos que compõem o livro.

 

Quanto tempo seria necessário para ler as 556 páginas e determinar quais trechos são cruciais para a prova?

Isso não importa! Um iniciante não tem experiência o suficiente para determinar quais partes da matéria são importantes o bastante para serem transcritas e quais são irrelevantes a ponto de serem deixadas para trás.

A sua destreza na escrita é irrelevante porque seu fichamento será, necessariamente, falho! O seu material sempre estará aquém do conteúdo original do livro.

Eu utilizei o exemplo da obra do Boris Fausto porque já existe uma espécie de fichamento deste livro à venda e precisamente todos os professores dos maiores cursos preparatórios para o CACD concordam que esse livro é insuficiente para a preparação do candidato.

 

Ora, se um resumo escrito pelo próprio autor não basta para a sua preparação para o CACD, por qual motivo um fichamento feito por você bastaria?

Para que esse exemplo fique bem claro, esses são os livros dos quais estou falando:

  • História do Brasil (Boris Fausto) – Esse livro é recomendado por todos os professores. Ele é essencial para a sua aprovação. É a obra integral e dela já foram retiradas várias perguntas da prova.

 

  • História Concisa do Brasil (Boris Fausto) – Essa é uma versão resumida do livro. Os textos são escritos pelo mesmo autor, mas uma série de informações importantíssimas para a prova foram deixadas de fora. Por quê? Porque o objetivo desse material é prover uma visão panorâmica da história nacional. A banca do CACD não seleciona pessoas que conhecem a história do Brasil superficialmente, querem candidatos que dominem o assunto de fato.

 

Por que algumas pessoas estudam com o livro História Concisa do Brasil então?

Porque querem um atalho. Muito embora o pragmatismo seja extremamente importante na sua preparação, você jamais deve utilizar esse argumento como uma desculpa para evitar leituras importantes, especialmente aquelas que não sejam particularmente agradáveis.

Algo que sempre digo: jamais realize leituras desnecessárias, mas dedique atenção extrema aos livros obrigatórios da bibliografia porque são eles que irão guiar seus pensamentos durante a resolução das questões mais difíceis do CACD.

Para que você não se perca, deixo aqui uma lista muito bem organizada dos livros que você deve ler para cada uma das disciplinas da prova:

 

Alguns podem estar pensando: “Eu já conheço a disciplina História do Brasil relativamente bem e tenho o hábito de fazer fichamentos”.

O autoconhecimento é uma ferramenta formidável no estudo para concursos públicos. Saber como seu cérebro processa informações da maneira mais eficaz é uma vantagem monumental em relação aos demais candidatos.

Ainda assim, insisto para que você reconsidere seu posicionamento em relação a fichamentos.

Veja, é impossível determinar quais partes dos livros a banca vai utilizar no desenvolvimento dos itens. Quando você decide reescrever trechos ou reorganizá-los em contextos ligeiramente diferentes daqueles contidos nos livros originais, há uma perda da capacidade de reconhecer esses mesmos trechos quando eles aparecem transcritos em alguma avaliação como o CACD.

Quando fazemos uma prova e, por algum motivo inexplicável, sentimos que determinado item está errado, não quer dizer que somos dotados de sexto-sentido. Trata-se apenas de um reflexo natural do cérebro indicando que há alguma incongruência entre a informação ali apresentada e os textos que lemos durante nossos estudos.

O fato é que esse reflexo se torna muito mais intenso e reconhecível quando o item em questão foi retirado ipsis litteris de um livro que já havíamos lido.

 

Você entende onde quero chegar?

Quando a banca copia o texto de algum livro, o fato de você já ter sido exposto àquela cadeia específica de palavras permite que você perceba as inconsistências do item com uma facilidade muitíssimas vezes maior do que alguém que foi exposto àquelas mesmas informações em um formato diferente.

Os fichamentos transformam a natureza das informações de maneira sutil, mas é justamente nos detalhes que a banca consegue separar os candidatos aprovados dos demais.

manual do candidato FUNAG

Além disso, mesmo que você conseguisse criar o fichamento perfeito, quanto tempo seria necessário para terminar uma obra de 556 páginas como a História do Brasil (Boris Fausto) ?

Uma simples operação matemática resolve essa questão. Digamos que você seja extremamente eficiente e consiga ler, reorganizar e reescrever cada página em 3 minutos. Você teria que investir, literalmente, 1668 minutos (28 horas) para terminar tal tarefa.

É fundamental lembrar que estamos falando de 28 horas de estudo efetivo.  Nada de celular, nada de lanche, nada de conversa com o colega de biblioteca. 28 horas de concentração total.

 

Quantos dias você acha que precisaria para finalizar essas 28 horas de estudo concentrado?

Em teoria, caso você estude 4 horas por dia, seria possível realizar esse trabalho em 7 dias.

 

Mas você já percebeu que as coisas, na teoria, funcionam de maneira marcadamente diferente da prática?

O História do Brasil foi o meu primeiro livro de estudo para o CACD. Eu não estava familiarizado com vários períodos da história nacional. Por esse motivo precisei de 2 meses inteiros para processar toda aquela informação e transformá-la em um fichamento que eu julgava excelente.

É lógico que eu não tinha nem ideia de que alguns capítulos desse livro devem ser evitados. É óbvio que eu não percebi que a obra praticamente não menciona o Segundo Reinado (um dos períodos mais importantes da disciplina).

 

Como é que eu iria saber essas coisas?

Eu não tinha experiência. Estava completamente cego e ao mesmo tempo certo de que conseguiria encontrar o caminho sozinho. Fui tolo. Mas você não precisa cometer os meus erros.

 

Como evitar essas armadilhas?

Contrate um profissional que conheça o assunto. Bons professores somados às leituras corretas são o verdadeiro segredo do CACD. Essa é a diferença entre uma aprovação rápida e um caminho tortuoso e, muitas vezes, sem fim.

Para a sua sorte, eu já escrevi um texto sobre os professores mais indicados de cada uma das disciplinas. Você pode ler o post aqui: Como começar a estudar para o CACD.

 

Por que as pessoas fazem fichamentos?

O argumento a favor dessa técnica de estudo baseia-se na ideia de que o processo de criação de fichamentos é demorado, mas, uma vez que o trabalho esteja pronto, é muito mais rápido revisar a matéria.

Como eu já disse, esse argumento não se sustenta quando observamos o grau de sutileza das questões do CACD. Reescrever textos dos livros obrigatórios implica perder detalhes cruciais para a sua aprovação.

bandeira do brasil estilizada

Já que fichamentos não são recomendáveis, devo simplesmente ler os livros?

Não. Mais que ler, você deve verdadeiramente utilizar seus livros.

Olha só, livros de estudo não são relíquias! Não são objetos que devem manter características pristinas. São ferramentas de aprendizado. São os calçados que irão permitir que você escale essa gigantesca montanha chamada CACD.

Você pode e deve fazer anotações nas páginas, deve colar lembretes e utilizar marca-textos quantas vezes forem necessárias para que consiga extrair o máximo de informações de cada uma das páginas.

 

Acho engraçado quando vejo pessoas vendendo seus livros após desistirem de estudar para o CACD. No começo eu me perguntava: quem é que vai ter coragem de comprar um livro utilizado por um candidato ao CACD? Um livro em péssimo estado?

Mas aí eu via as fotos desses livros na internet e percebia que as páginas estavam intocadas. Os livros pareciam ter sido impressos naquele mesmo dia.

Com o tempo você vai perceber que é fácil identificar quais são os candidatos promissores e quais são os incompetentes. Aqueles que levam o estudo a sério sempre têm livros sujos, rasgados, rabiscados e absolutamente impróprios para a revenda.

 

A melhor técnica para substituir fichamentos

Em vez de desperdiçar tempo reescrevendo frases, utilize um marca-texto amarelo para selecionar as porções dos parágrafos que você considera mais importantes.

Com o passar do tempo, você irá adquirir maturidade intelectual e aos poucos vai perceber que aquilo que foi marcado em amarelo inicialmente constitui a base do seu aprendizado.

Naturalmente nosso cérebro foca a atenção naquilo que é essencial à compreensão do assunto e ignora informações mais específicas. Veja este exemplo retirado da obra História da Política Exterior do Brasil (Amado Cervo e Clodoaldo Bueno) – livro disponível na Amazon:

“A política externa da Inglaterra foi linear, desde que Pitt idealizou o grande projeto da supremacia comercial britânica sobre o mundo. Sua morte prematura em 1806 interrompeu os planos, levados a termo por seu discípulo, George Canning. A este projeto contrapunha-se o napoleônico, com a finalidade de arruinar a Inglaterra econômica e militarmente”.

Caso você tenha começado a estudar agora, é bastante provável que não tenha nem ideia de quem foi Pitt ou Canning. Não há nenhum problema nisso! Você está realizando sua primeira leitura do livro, deve marcar em amarelo somente aquilo que é importante para a compreensão basilar dos episódios. Nesse caso, você precisa saber apenas que:

  • A Inglaterra tinha um projeto de supremacia comercial;
  • A França napoleônica desejava aniquilar a Inglaterra.

Viu como é simples? Você ainda não está em condições de decorar nomes de personagens ingleses, primeiro precisa compreender o contexto dos conflitos.

 

Então devo ignorar esses nomes?

Por enquanto, sim!

Rapidamente você vai perceber que esses atores são mencionados numerosas vezes em diferentes capítulos e mesmo em outros livros.

Uma vez que você comece a realmente entender a dinâmica do conflito anglo-francês, esses personagens naturalmente tornar-se-ão familiares a seus olhos.

Lembre-se, nós estamos falando apenas da primeira leitura da obra. Você terá de ler todos os livros da bibliografia mais de uma vez, alguns, 2 vezes, outros, 5.

 

O que fazer depois da primeira leitura?

Permita que seu cérebro tenha tempo de processar aquelas informações. Leia outros livros da mesma matéria, assista a aulas para ter contato com o conteúdo por meio de um veículo diferente.

Mais tarde, quando você estiver relativamente confortável com aquelas informações, retorne ao livro e faça a segunda leitura. Desta vez, utilize um marca-texto de outra cor. Assim você poderá selecionar partes do texto que guardam informações mais granulares.

Talvez seja a hora de começar a nomear os personagens.

Agora que você já compreende que ingleses e franceses se odeiam, é interessante determinar quais eram os objetivos de Pitt e Canning.

 

Conclusão

Seu tempo é o que há de mais valioso. Realize seus estudos de maneira inteligente e evite reescrever textos como um exercício puramente mecânico.

A leitura reiterada acompanhada da seleção das partes mais importantes dos textos é uma estratégia certeira para tatuar no seu cérebro as palavras e intenções originais dos autores mais importantes para a sua prova.

Essas recomendações são bastante simples. Apenas sugiro que você aprenda o conteúdo como uma criança aprende a andar: de maneira gradual e por etapas.

Lembre-se:

  • Primeiro domine o contexto;
  • Só então preocupe-se com detalhes como nomes de personagens e datas.

Caso você também queira estudar Política Internacional de maneira eficiente, registre-se na Plataforma de Estudo de Atualidades aqui do site. Eu disponibilizo apostilas com resumos de todas as notícias importantes dos últimos 12 meses. Tudo organizado por data, assunto e região.

Bons estudos e sucesso na caminhada rumo ao Itamaraty!

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