A Índia tem se tornado um país cada vez mais relevante nos últimos anos. Embora seu progresso não seja tão reconhecido quanto aquele observado na China, indianos estão assumindo posições de destaque no desenvolvimento de seu programa espacial e na indústria da tecnologia da informação.
A imagem que a maioria das pessoas têm da Índia ainda condiz com a realidade de boa parte da população indiana. Há pobreza extrema e falta estrutura em parte considerável do subcontinente indiano, mas o país também apresenta enclaves de alto desenvolvimento tecnológico.
Bangalore
Um exemplo claro da inclinação indiana para o universo digital é o fato de a cidade de Bangalore ter se tornado um dos principais polos de desenvolvimento de software do mundo.
Grandes quantias de desenvolvedores e engenheiros de software na América do Norte perderam seus empregos na última década. As gigantes da computação, como a Microsoft e a IBM, optaram por transferir partes significativas de seus centros de desenvolvimento para países com mão de obra mais barata. A Índia foi o país mais beneficiado.
Essa movimentação de empregos para o subcontinente indiano foi tão significativa que chegou até mesmo a dar origem a uma expressão em inglês muito utilizada no Vale do Silício: “To be bangalored”, que significa perder o emprego e vê-lo ser entregue a algum indiano na cidade de Bangalore.
Devido a seu inovador programa espacial, suas habilidades na seara da tecnologia da informação e ao seu poder nuclear, a Índia é definitivamente merecedora de sua posição no rol das nações mais relevantes da atualidade.
É sob essa nova ordem mundial que Brasil e Índia adensam suas relações por meio de mecanismos políticos e econômicos como o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), IBAS (Índia, Brasil e África do Sul) dentre muitos outros.
A magnitude da população da Índia
A Índia conta com a segunda maior população do mundo, são 1,3 bilhão de pessoas. O país fica atrás somente da China.
Apesar de parte significativa da população viver em situação de pobreza, a Índia forma engenheiros, matemáticos e profissionais da informática em quantidades impossivelmente altas se comparada a muitos outros países.
As datas mais importantes da história indiana
- 1947 – Primeira Guerra Indo-Paquistanesa;
- 1947 – Independência da Índia;
- 1947 – Criação do Paquistão;
- 1962 – Guerra com a China pelo território de Ladakh (região do Himalaia). A Índia perde a guerra;
- 1965 – Segunda Guerra Indo-Paquistanesa (Guerra da Caxemira);
- 1971- Independência de Bangladesh (antigo Paquistão Oriental).
A Questão Nuclear e a Índia
Diferente do Brasil, que assinou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), A Índia preferiu seguir com seu programa de desenvolvimento nuclear alegando ser algo necessário para a manutenção de sua segurança nacional.
O Brasil esteve reticente em relação ao TNP por muito tempo, mas acabou optando por restringir sua pesquisa nuclear a aplicações não bélicas. Eu escrevi um pouco mais sobre a questão nuclear nesse artigo: Armas Nucleares, Desarmamento e Não-Proliferação.
No caso da Índia, a opção pela aplicação militar da tecnologia nuclear parecia óbvia devido às sangrentas guerras com o Paquistão, vizinho que também tem seu próprio arsenal nuclear.
Dentre as nações que não são signatárias do TNP estão:
- Índia;
- Paquistão;
- Israel;
- Coreia Do Norte (era signatária, mas se retirou do acordo).
As principais diferenças entre Brasil e Índia em relação ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear
Posição brasileira: Araújo Castro, à época representante do Brasil na ONU, reclama e afirma que a assinatura de tal tratado promoveria o “congelamento do poder” nas mãos das nações já detentoras de ogivas nucleares.
Isso promoveria uma separação dos países em duas espécies de nações:
- As que não detém tecnologia nuclear para fins bélicos e, portanto, são mais frágeis;
- Aquelas que detém ogivas nucleares e consequentemente as vantagens estratégicas que acompanham essa superioridade militar.
Apesar das reclamações iniciais do Brasil, o país optou por não desenvolver armas nucleares e assinou o Tratado de Não Proliferação-Nuclear.
A Índia, por outro lado, foi muito mais pragmática. Desde o início foi contra o TNP e em vez de reclamar da natureza injusta do tratado, acelerou suas pesquisas para desenvolver seu primeiro artefato nuclear o mais rápido possível.
Indianos lograram Êxito e atualmente estão no seleto rol de detentores de arsenais nucleares.
A cronologia da pesquisa nuclear da Índia
1974 – A Índia desenvolveu sua primeira arma atômica e afirmou que o teste do artefato era completamente pacífico, chegou até mesmo a chama-lo de “Smiling Budha” (Buda Sorridente):
Inicialmente os indianos foram criticados por várias nações, afinal, não existe algo como um teste de bomba nuclear pacífico. Mas devido à necessidade dos Estados Unidos de manter saudáveis as relações com seu aliado regional, o mundo acabou aceitando essa Índia militarmente fortalecida.
1998 – Explode sua primeira arma atômica;
A França, que também tinha seus interesses na região, foi uma das principais responsáveis pelo sucesso do programa nuclear indiano. Houve cooperação entre os países durante a fase de pesquisas. Além disso, o suporte político francês também tornou a aceitação de uma Índia nuclear muito mais palatável.
Diferença na condução das relações exteriores entre Brasil e Índia
Enquanto a Índia dedica vultosos recursos à segurança nacional, o Brasil não tem esse tipo de problema. Apesar de a América Latina sofrer com uma série de mazelas que afligem os países da região há séculos, a maior parte dos problemas relacionados à violência está contida no interior de cada país.
Os latino-americanos vivem a violência interna, mas não têm grandes problemas fronteiriços, diferentemente dos indianos, que habitam uma região repleta de vizinhos hostis.
As tensões entre Índia e Paquistão fazem da fronteira entre os dois países a área mais propensa do mundo a uma guerra nuclear.
O processo de industrialização indiano
Em relação à industrialização, Brasil e Índia compartilham características semelhantes.
A Índia passou por uma espécie de industrialização por substituição de importações, assim como o Brasil, entretanto, esse processo se deu de maneira muito mais intensa e consistente.
Em vários países da América-Latina observa-se um desenvolvimento marcado por marchas e contramarchas. Apesar dos esforços dos governos latino-americanos, as iniciativas implantadas nas nações têm vida curta ou são empreendidas com vistas a atender demandas de curto prazo.
Na Índia, assim como acontece na China, há uma preocupação muito maior com o reflexo que as políticas da atualidade terão sobre as próximas gerações.
Diferenças políticas entre Índia e Brasil
A Índia é um país autárquico, mas isso não significa que seja xenofóbico ou avesso a influências estrangeiras. Os indianos apenas acreditam que, devido às características únicas de seu país, os modelos ali utilizados devem ser desenvolvidos especificamente para aquela realidade local.
Indianos defendem o desenvolvimento de políticas próprias. Nenhum outro modelo poderia ter sucesso em um país tão peculiar. A autônima, tanto de ideias quanto de execução, é uma necessidade.
A ascensão do primeiro-ministro Manmohan Singh resultou em uma maior abertura da Índia e na adoção de políticas muito mais similares às brasileiras.
A posição da Índia durante a Guerra Fria
Naquele momento, os indianos estavam mais próximos à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Grande parte dessa proximidade pode ser atribuída à proximidade geográfica, mas ainda que fizesse sentido para os indianos cooperar com os soviéticos, isso não significava, de nenhuma maneira, repelir os Estados Unidos.
A Índia sempre teve o cuidado de manter sua amizade com os polos de poder que a cercavam. Durante a própria Guerra Fria e mais ainda, imediatamente depois dela, o relacionamento da Índia com os Estados Unidos adensou-se e a parceria gerou uma miríade de frutos, particularmente nos campos da informática e da medicina.
A relação da Índia com os Estados Unidos e com a Rússia na atualidade
A aproximação indiana com os Estados Unidos, curiosamente, foi encetada pelos próprios americanos.
O fato de a China ter começado a se desenvolver a taxas extremamente altas preocupou os Estados Unidos, que passou a temer a possibilidade de uma China hostil no futuro.
O estreitamento das relações entre Estados Unidos e Índia permite aos americanos manter sua esfera de influência na região e contrabalancear o poder chinês, que está intimamente relacionado ao relacionamento dos chineses com o Paquistão.
Essa necessidade que os Estados Unidos têm de manter a Índia ao seu lado explica boa parte dos motivos pelos quais os americanos terem aceito, apesar da retórica, o desenvolvimento de artefatos nucleares pelos indianos.
Em relação a Rússia, as relações mantiveram-se saudáveis e o comércio entre as duas nações tem se adensado com o passar dos anos.
A Índia, atualmente, é um dos principais compradores de armamentos russos.
A influência da Índia no hemisfério sul
Certamente um dos momentos mais importantes da história de todo o Hemisfério Sul foi o Movimento dos Países Não-Alinhados, engendrado em 1961 na Conferência de Belgrado, na então Iugoslávia.
Há duas informações que você realmente precisa guardar:
- O Movimento dos Países Não-Alinhados nasceu, de fato, na Conferência de Belgrado, em 1961.
A banca provavelmente vai tentar te enganar ao dizer que a primeira conferência dos Não-Alinhados foi a Conferência de Bandung, na Indonésia, em 1955. Essa informação está absolutamente incorreta.
A Conferência de Bandung (1955) discutiu assuntos acerca da Descolonização Afro-Asiática. Ela era muito mais restritiva que a Conferência de Belgrado (1961).
Como o nome revela, em Bandung, apenas países localizados na África e na Ásia participavam. Enquanto Belgrado estava aberta para todos aqueles que não quisessem fazer parte de nenhum dos dois lados da Guerra Fria.
É verdade que muitos dos membros de Bandung também integraram a Conferência de Belgrado, mas o foco dessas conferências era diverso.
É importantíssimo lembrar que o Brasil nunca foi membro dos Não-Alinhados, foi apenas um observador.
As provas adoram dizer que o Brasil fazia parte dos Não-Alinhados porque o país também está localizado no hemisfério sul e tinha muitas características similares àquelas de outros membros desse grupo.
Jamais se deixe enganar pelas bancas de concurso. Preste bastante atenção a isso:
O Brasil não foi e não é membro do Movimento dos Países Não-Alinhados.
A primeira visita de Estado de indianos ao Brasil
No ano de 1968, Indira Gandhi (ela não é parente de Mahatma Gandhi), primeira-ministra da Índia fez a primeira visita de um chefe de Estado indiano ao Brasil.
Desde então as relações entre os países têm sido sedimentadas a cada ano. Embora ainda haja um grande vácuo no intercâmbio cultural entre Brasil e Índia, no âmbito comercial as interações são extremamente positivas.
Brasil e Índia desenvolvem uma série de medicamentos conjuntamente e têm lutado por uma causa bastante relevante: a redução dos preços de remédios controlados por grandes indústrias farmacêuticas, como aqueles que combatem o vírus da AIDS, por exemplo.
As bases do relacionamento entre Índia e Brasil
Há três facetas importantes:
- Multilateralismo;
- Multipolaridade;
- Políticas Externas multivetoriais.
Convergências de Brasil e Índia:
1. Na década de 1980 iniciou-se uma importante parceria indo-brasileira na pesquisa da produção de etanol por meio da cana-de-açúcar. Índia e Brasil estão entre os maiores produtores de açúcar do planeta e, por esse motivo, tinham inúmeras razões para realizar pesquisas conjuntas.
2. BRICS (transferência do poder do G-8 para o G-20):
Brasil e Índia também têm total interesse na alteração do grupo de influenciadores que foi instaurado desde a Segunda Guerra Mundial. Ao final da guerra, sedimentou-se uma estrutura de poder a qual excluía países periféricos.
Atualmente o poder tem se tornado cada vez mais difuso e tanto brasileiros quanto indianos lutam para que essa nova realidade seja refletida nas organizações internacionais e na estrutura econômica mundial.
3. IBAS (Índia Brasil e África do Sul);
4. Reforma da governança global;
5. G20 Comercial (Brasil e Índia são os protagonistas);
6. Brasil e Índia são os maiores produtores de medicamentos genéricos do mundo;
7. Engajamento Ampliado (Enhanced Engagement):
Tem Brasil e Índia como participantes. Trata-se de uma maior aproximação com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), mas não é, de maneira nenhuma, uma adesão à organização.
Por meio do Engajamento Ampliado, os dois países comprometem-se a assumir algumas das diretrizes da organização sem especificamente tornarem-se membros dela.
É importante que você guarde essa informação:
Brasil e Índia não são membros da OCDE.
8. O acordo de Comércio Preferencial entre MERCOSUL e Índia foi assinado em 2009. Esse acordo entrou em vigor em 2010. Foi o primeiro acordo extrarregional do MERCOSUL com um país emergente.
Na pauta de importações estão o diesel e manufaturados. O Brasil exporta derivados do açúcar, petróleo, óleo de soja, cobre e outros minerais. A tendência de importar manufaturados e exportar produtos primários é clara. Apesar disso, essa pauta é diversificada e não fere o mercado brasileiro;
9. A Índia é um dos maiores mercados militares da Embraer.
As divergências entre Brasil e Índia
- Questão nuclear;
- A empresa brasileira MECTRON vendeu mísseis para o Paquistão. Apesar de a Índia não ter aceitado bem essa transação comercial, o fato não ameaçou as relações bilaterais significativamente.
Conclusão
Brasil e Índia têm mantido relações saudáveis ao longo de toda a sua história.
Apesar dos enormes avanços nas relações comerciais, esses dois países do hemisfério sul ainda têm um longo caminho a percorrer em relação ao possível desenvolvimento de laços políticos e culturais mais fortes.
Ao Brasil interessa aprender com a Índia sobre a promoção da educação de qualidade em áreas empobrecidas. Para além disso, a guinada indiana rumo a uma economia mais dinâmica e voltada às novas tecnologias pode funcionar como um exemplo de que, quando as políticas corretas são colocadas em movimento, países em desenvolvimento podem assumir a liderança de pesquisas científicas.
É certo que os próximos “Vales do Silício” serão desenvolvidos em países como a China e a Índia, resta saber se o Brasil será capaz de alterar sua estrutura atual e juntar-se aos dois gigantes asiáticos.
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